Humilhados e Ofendidos – Narrado sob o ponto de vista do personagem principal, Humilhados e Ofendidos possui o caráter psicológico e moral das grandes criações do autor, e reconhecido posteriormente como uma das contribuições mais brilhantes e profundas para a literatura moderna. Vânia, o protagonista, é um homem sensível, um escritor que relata em tom protocolar e, contraditoriamente, confessional e emocionado os acontecimentos vividos por uma família pobre e sofrida de uma grande cidade – talvez haja aí uma referência autobiográfica do próprio autor. Em contraponto está o príncipe Valkóvski, viúvo, aristocrata, que enriqueceu através de artimanhas, astuto e um egoísta no mais íntimo do seu ser. Se todos os seus pensamentos verdadeiros pudessem aflorar, seria tão repugnante que “traria um grande mau cheiro” – nas palavras do próprio Dostoiévski. Certamente estamos diante de um prenúncio daquela personalidade, daquele tipo que mais tarde se denominaria “o homem de subsolo”, reiteradamente presente na obra do escritor, e que representa uma síntese complexa do individualismo, da vaidade, da indiferença ao sofrimento alheio e da maldade presentes na alma humana.
A narrativa de Humilhados e Ofendidos envolve o leitor definitivamente. O encadeamento da ação, a dramaticidade dos acontecimentos e as personagens são um retrato contundente e expressivo dos despossuídos em todo seu sofrimento e humilhação. Porém, a grandiosidade da obra de Dostoiévski não está unicamente em retratar a condição de abandono e submissão daqueles que estão distantes do poder e dos bens materiais. Sua grandiosidade está em atribuir a essa representação um caráter moral, que supera as circunstâncias e se torna permanente.
Valentin Louis Georges Eugène Fiódor Mikhailovitch Dostoiévsk - Fedor Dostoievski (em russo: Фёдор Миха́йлович Достое́вский, Fyodor Mikháylovich Dostoyévsky; AFI: [ˈfʲodər mʲɪˈxajləvʲɪtɕ dəstɐˈjɛfskʲɪj]; Moscovo, 30 de outubro (c. juliano) / 11 de novembro de 1821 — São Petersburgo, 28 de janeiro (c. juliano) / 9 de fevereiro de 1881) – ocasionalmente grafado como Dostoievsky – foi um escritor, filósofo e jornalista russo, considerado um dos maiores romancistas da história e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos.[3][4] É tido como o fundador do existencialismo, mais frequentemente por Notas do Subterrâneo, descrito por Walter Kaufmann como a "melhor proposta para existencialismo já escrita".
A obra dostoievskiana explora a autodestruição, a humilhação e o assassinato, além de analisar estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio: seus escritos são chamados por isso de "romances de ideias", pela retratação filosófica e atemporal dessas situações.[6] O modernismo literário e várias escolas da teologia e psicologia foram influenciados por suas ideias.
Dostoiévski logrou atingir certo sucesso com seu primeiro romance, Gente Pobre, que foi imediatamente muito elogiado pelo poeta Nikolai Nekrássov[7] e por um dos mais importantes críticos da primeira metade do século XIX, Vissarion Belínski.[8] [9] Porém, o escritor não conseguiu repetir o sucesso até o retorno à Sibéria, quando escreveu o semibiográfico Recordações da Casa dos Mortos, sobre a prisão que sofrera. Posteriormente sua fama aumentaria, principalmente graças a Crime e Castigo.
Seu último romance, Os Irmãos Karamazov, foi considerado por Sigmund Freud como o melhor romance já escrito.[10] Perigoso, segundo Josef Stálin, até 1953 o currículo soviético para estudos universitários sobre o escritor o classificava como "expressão da ideologia reacionária burguesa individualista". Segundo ele mesmo, seu mal era uma doença chamada consciência.[11] A obra de Dostoiévski exerce uma grande influência no romance moderno, legando a ele um estilo caótico, desordenado e que apresenta uma realidade alucinada.